Receita para fazer chover nos canaviais do Estado de São Paulo

Desde o final dos anos 70 percorro os 423 km que ligam a São Paulo a Barretos (muitas vezes via Ribeirão Preto) e observei as mudanças na paisagem das rodovias conforme o tipo de agricultura dominante: gado, café, laranja e enfim a cana de açúcar que mudou completamente a paisagem dessa grande e rica região.

A riqueza produzida na agricultura não considera o custo ambiental, principalmente o da água utilizada no processo, porque aparentemente os recursos hídricos da região pareciam inesgotáveis. Também não é considerado o custo da extinção das espécies animais que desapareceram com o desmatamento das florestas. Como também não é computado o custo social do processo. A baixa escolaridade dos cortadores de cana impede, por exemplo, a mecanização do corte dessas lavouras (em substituição das queimadas, já proibidas por lei), porque é necessário oferecer soluções de emprego para essa grande população, que sem uma formação profissional efetiva, não será absorvida nos outros segmentos econômicos da região.

E agora em 2014, com a seca que assola o Estado de São Paulo, as lavouras de cana de açúcar estão em risco de sobrevivência e colocando em risco os lucros da economia da região, e também do Brasil, visto que essa rica região que se abastece das bacias dos Rios Mogi-Pardo e Médio Grande estão localizadas na porção oeste do Estado de São Paulo, abrangendo 113 municípios (93 no Estado de São Paulo e 20 em Minas Gerais), gerando um PIB anual superior ao PIB da Argentina.

Como se produz água?

A água é a dona da vida, simples assim. O ciclo de produção da água requer alguns elementos vivos, como por exemplo, a preservação das matas que acolherão os animais que se encarregam de distribuir as sementes de plantas mantendo um ciclo natural de reprodução da vida. As matas ciliares ao redor das nascentes e rios tem a função de manter (falando de uma maneira simplificada) a evaporação que se transformará em chuva. Zelar pela manutenção desse ciclo natural é zelar pela preservação da água necessária a agricultura. Essa é a receita de fazer chover.

Cadê as matas que estavam aqui?

Olhando o mapa de Unidades de Conservação do Estado de São Paulo, confirmamos que as regiões norte e oeste não têm o menor resquício de mata a ser preservada. Essa é uma boa receita para se criar desertos ao longo do tempo. E desertos não são produtivos. As próximas gerações de agricultores dessa rica região vão experimentar de forma concreta, um cenário de INSUStentabilidade criado por seus pais e avós sob cujas ordens, o desmatamento foi feito.

O que é Sustentabilidade?

A definição de sustentabilidade ou desenvolvimento sustentável é a capacidade da geração atual suprir suas necessidades materiais, sem comprometer as próximas gerações. O cenário atual da região norte e oeste do Estado é de Insustentabilidade. Isso significa que as próximas gerações não terão alimentos, água, roupas e outros produtos suficientes para a manutenção de suas vidas. E é necessário alterar esse processo implantando medidas simples (mas trabalhosas) como reconstituir as matas ciliares de todas as nascentes e corpos hídricos.

Afinal, a receita de sustentabilidade de um produto é que o processo sejaambientalmente suportável, socialmente equitável e economicamente viável. Os pilares ambiental e social, nesse caso, precisam de um reforço extra e urgente por parte dos dirigentes e cidadãos que ainda mantém alguma lucidez em relação a essas questões.